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Diário de Bordo: o meu primeiro “jinetero”

Em La Habana vive-se, um pouco, num “constante desatino”. Há música por todo o lado que se mistura com um espírito-latino americano de uma alegria contagiante, de sorriso largo, de braços abertos de uma curiosidade desconfiada em relação a quem chega. Uma espécie de “Nápoles meets Latin America”: trânsito caótico (Sinais de trânsito? O quê?); pessoas, pessoas, pessoas – por todo o lado – pessoas que nos agarram, nos falam, nos cantam, passam à frente em passo apressado, param e impedem a passagem, pessoas, num sonido constante e incansável, mas cansativo (por vezes!).

Em la Habana, cada esquina é um “amigo” e as aspas, aqui, assentam-lhe!  O cubano pode ganhar tão pouco como 15CUC ao mês e, por isso, esta situação para muitos, bastante complicada há uma contínua necessidade de procurar formas criativas de “ganhar” dinheiro.

O que complica a situação um pouco mais é que, normalmente não são claros acerca do seu “negócio”, escondendo os motivos, passando-se por “aimigo – do alheio”. Como “amigo” procura-nos sítio onde dormir, táxi, restaurantes, “secretamente” recebendo comissões.

Na primeira noite encontramos o Léon e ao fim de 15 dias, tinhamos encontrado muitos “Léons” que, mostrando-nos recantos aqui e ali, locais que provavelmente não encontraríamos, falando um pouco aqui e um pouco ali de posições políticas, ou a falta delas, nos dão a conhecer um pouco do lado de “sobrevivência, música, livros, charutos,… ” de Cuba.

É cansativo e desgastante, é enfurecedor e deixou-me, várias vezes, triste, e, por vezes, temos vontade de fugir, mas, agora, na segurança do meu sofá, acho que nunca me ri tanto em lado nenhum, nunca enrubesci tão rapidamente, nunca me enterneci como lá. Nunca dancei, me encantei, tive vontade de chorar ou de gritar, como lá. Cuba exaspera, desespera,mas não fica indiferente.

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Diário de Bordo: Cuba

Hoje voo para Cuba. De Lisboa a Madrid. De Madrid a La Habana.
 

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Desde há muitos anos, quando me descobri “de esquerda”, que era um país que queria visitar: a “Ilha Vermelha”. Confesso que me faz sonhar. Não espero encontrar lá a resposta à esquerda, às suas perdas, aos seus ganhos ou a qualquer beco na construção de uma sociedade mais justa, mas quero falar com os cubanos: os mais velhos, os mais novos, aqueles que fazem parte do Partido, aqueles que fazem parte de uma revolução, agora, com 56 anos e que vivem, orgulhosos, como os únicos da região capazes de vencer uma investida dos Estados Unidos e de sobreviver ao mais long embargo económico da história.

Uma ilha, perdida no tempo, no espaço, algures numa política muito moldada por esse embargo, mas também por homens e mulheres que acreditaram ser possível fazer diferente. E é com esses que quero falar. Saber como sonharam a sua revolução, como lutaram por ela e o que dela lembram com mais carinho, o que dela guardam com mais orgulho e aquilo que, por impossibilidade, por cansaço, por incapacidade, não foram capazes de alcançar – ainda?

Quero ver casas, carros, pessoas que vivem naquilo que me descreveram como uma suspensão no tempo, como uma identidade muito própria, num paralelo espaço-temporal só possível se, por artes mágicas, fôssemos enviados para um período diferente: aquele em que tudo era possível, aquele em que tudo estava em contrução e todos e todas acreditavam que “o dia de amanhã era impossível de roubar”.

E tenho medo… que não seja assim tão romantizado, que me desiluda, que não consiga encontrar, entre esses últimos redutos sobreviventes de uma época, a força e a vontade de lutar.

Quero abraçar uma cultura com os braços bem abertos, num abraço apertado, sem prender…

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Há muito, muito tempo, numa história distante…

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Alors, c’est la guerre (Então é a guerra). – O seu lema é[ra] Não (?)

Dia do Não (em grego: Επέτειος του «’Οχι» Epeteios tou “‘Ohi”, Aniversário do “Não”) é celebrado pela Grécia, Chipre e pelas comunidades gregas ao redor do mundo no dia 28 de Outubro, para comemorar a rejeição do primeiro ministro Ioannis Metaxas  ao ultimato feito pelo ditador italiano Benito Mussolini.

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M12M quer oferecer enciclopédia a Merkel (Comunicado de Imprensa)

O Movimento 12 de Março (M12M) envia aviso à governante alemã dizendo que a História não se repete. Desta vez, não nos rendemos!

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15 de Outubro – Divulga, Mobiliza | Faz deste o teu Protesto

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Planos de Austeridade para Tótós

Após os planos de Austeridade na Europa repararemos em 7 consequências principais:

  • Existirá um prolongamento da crise, pois estaremos a comprimir a procura global;
  • Os mecanismos de protecção social estarão mais reduzidos (se não desaparecerem) provocando um agravamento da pobreza e da precariedade das vitimas da crise;
  • Os poderes das sociedades financeiras sairão reforçados em detrimento da sociedade e dos Estados graça às pressões (ler chantagem) que estes não se inibem de exercer enquanto credores;
  • O reembolso da divida pública tornar-se-à um elemento central do debate politico e da gestão governamental nos próximos 15 anos (pelo menos);
  • Verificar-se-à um reforço dos desequilíbrios e das forças centrifugas no seio da União Europeia devido ao aprofundar da competição económica entre países membros. Provavelmente reforçarão as forças politicas de extrema direita que se alimentam do empobrecimento de uma parte da população e dos reflexos de retirada e estigmatização de outra;
  • A capacidade dos Estados de responderem às suas obrigações sairá diminuida no que toca os direitos humanos fundamentais e sairá reforçada a tendência para utilisar a repressão como resposta ao protesto social;
  • Será igualmente reduzida a capacidade dos Estados de responder às suas obrigações internacionais nos domínios da ajuda ao desenvolvimento, do alívio às populações vítimas de catástrofes naturais e da contribuição para a luta contra as alterações climáticas.

Uma circunstância agravante:

A comissão Europeia e os executivos Estados membros que se submeteram ofereceram ao FMI a possibilidade de voltar à frente do cenário europeu enquanto credor directo dos Estados que pedem a sua ajuda (leia-se RESGATE). Isto é uma alteração importante face a anos anteriores.

A generalização dos planos de austeridade num contexto de crise prolongada coloca-nos a todas e a todos frente a uma responsabilidade importante: a de adoptar um conjunto de propostas para enfrentar os desafios que se aproximam, uma estratégia de convergência e de unidade de acção cuja finalidade é assegurar um fim para a crise.

In English: Austerity Measures for Dummies

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O culto ao Mercado

Praticamente todos os dirigentes políticos dedicam um verdadeiro culto ao mercado, aos mercados financeiros em particular. Falta ainda dizer que eles fabricam uma religião do mercado.

Cada dia, uma missa para honrar o Deus Mercado é dita em cada casa munida de uma televisão ou de uma conexão à internet, no momento em que nos damos conta da evolução das cotações da bolsa e das expectativas dos mercados financeiros.

O Deus Mercado envia sinais através de um jornalista económico ou do cronista financeiro. (Isto não é verdade apenas para a maioria dos países mais industrializados, antes é verdade para a maior parte do planeta.)

Por todo o lado, os governantes procederam a privatizações, criando a ilusão de que as populações podiam participar directamente nos rituais do mercado (através da compra de acções) e receber um benefício como retorno na medida em que conseguiram interpretar de modo correcto os sinais enviados pelo Deus Mercado. Na realidade, a pequena parte daqueles que, a partir de baixo, fizeram a aquisição de acções não têm qualquer peso sobre as tendências do mercado.

No futuro notaremos que este culto beneficiou desde o principio do apoio dos poderes públicos (que se ajoelharam voluntariamente a este Deus que os priva do seu poder) e dos poderes financeiros privados.

Para que este culto encontre um certo eco nas populações, era necessário que os grandes meios de comunicação pratiquem todos os dias uma homenagem e prece quotidiana.

Os Deuses desta religião são os mercados financeiros. Os templos que lhe são dedicados denominam-se bolsas. Somente os grandes sacerdotes e os seus acólitos são convidados a participar. Os crentes de baixo são convidados a comunicar com o Deus Mercado através do intermediário do pequeno ecrã de televisão ou do computador, do jornal diário, da rádio, ou da fila no banco.

Para amplificar, no espírito dos crentes, os poderes do Deus Mercado, os comentadores anunciam periodicamente que Este enviou sinais aos executivos estatais para demonstrar a Sua satisfação ou o Seu descontentamento.

Mas o Deus Mercado está descontente com o comportamento da Irlanda, de Portugal, da Grécia, de Espanha (…) e para satisfazer a Sua ira os governos destes países deverão também apresentar uma oferta de fortes medidas anti-sociais.

Para se assegurar da benevolência do Deus Mercado, os governos sacrificam os sistemas de segurança social sobre o altar da bolsa. Os governos privatizam também.

E nós, pequenos participantes de base, assistimos, quietos, sossegadinhos, com respeitinho e sem disputar, porque isso é que é um bom crente!

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Festival de Avignon – O terrorista Zizek quer que façamos algo

“O esloveno Slavoj Zizek lançou bombas em Avignon. Outra coisa não seria de esperar do provocador nato e fi lósofo-estrela que fundou a Sociedade de Psicanálise Teórica de Liubliana, à qual preside. Diz que ainda vamos a tempo de mudar o destino. Basta agir rápido e sem medo, atentos ao que existe na palavra comunismo: o que é comum

 Tiago Bartolomeu Costa, em Avignon

Slavoj Zizek acha que ainda vamos a tempo, que ainda não chegámos ao “ponto zero da catástrofe”. E, da mesma forma que acreditamos que o destino reconstrói retrospectivamente a nossa vida – “como quando estamos apaixonados e dizemos ter esperado a vida toda por essa pessoa” – também é possível “antever a catástrofe, para a evitar”. O seu papel, diz, é o de “problematizar, alertar e explicar”.

Foi o que veio fazer ao Festival de Avignon, na segunda-feira. A conferência, intitulada Como Sair da Catástrofe?, foi a oportunidade para Zizek, marxista e ateu, reconhecer o fi m da utopia comunista, abraçar a herança judaico-cristã europeia, e dizer que acredita em milagres. Mais: que há um destino que pode ser alterado.

“Ainda não chegámos lá”, repetiu várias vezes. “Mas já todos nos comportamos como se fosse um dado adquirido, como os gatos dos desenhos animados que continuam a andar mesmo depois de ter acabado o precipício.” Por isso, acha também que deveríamos assumir, por inteiro, o que significa catástrofe: “o ponto onde tudo se torna verdadeiro”.

Integrado no programa Thèâtre des Idées, conduzido por Nicolas Truong, Zizek defi niu os problemas aos quais deu o nome de “quatro cavaleiros do apocalipse”: a ecologia, a biotecnologia, a propriedade intelectual e as novas formas de apartheid. A partir destes elementos desconstruiu o modo como estamos a pensar o mundo.

Falou de uma ideologia ecológica culpabilizante que “produz bons sentimentos mas poucos resultados práticos” e disse mesmo que, se fosse terrorista, seria na Starbucks – a marca americana de lojas de café, “mestre do consumo ideológico”– que colocaria uma bomba.

“Fazem-nos pagar um preço mais elevado pelo café, garantindo que o nosso pecado consumista será redimido pelo apoio que prestam às causas para as quais não temos tempo”, defendeu.

“Não levantamos questões sobre como mudar de hábitos e produzir soluções, mas aceitamos entrar num jogo de culpabilidade sedutor, reciclando o jornal e a garrafa”, exemplifi cou. “Estamos num tempo de revolução, não num tempo revolucionário. São precisas soluções práticas”, pediu.

Disse que era hoje possível inventar, em laboratório, coisasque só se imaginam na fi cção científica, “mas quando se pede um por cento dessas verbas para o sistema de segurança social, diz-se que não é possível”. Falou da artificialização dos mecanismos de integração social, como as séries de televisão que colocam gargalhadas nos lugares onde devemos rir, “aliviando-nos a pressão quotidiana”. E, por isso, se admite que “o comunismo, tal como o vivemos no século XX, morreu”, também acredita que aquilo que não morreu é o que está contido na expressão “comunismo”: o que é comum.

E, por comum, Zizek não fala de comunidade – não acredita quepossam existir “comunidades sem exclusão” – mas em “colectivo”.

“Aquilo que é a substância da nossa vida não deve ser privatizado”, disse, dando o exemplo de Bill Gates: “Ficamos fascinados por ele ser o homem mais rico do mundo, mas esquecemo-nos que o é porque privatizou algo que nos é fundamental e comum: a comunicação. Agora, para escrevermos a alguém temos que passar pelo sistema que ele inventou.”

E a solução para a crise, mesmo que alerte não ter “uma fórmula mágica”, passa não por resolver os problemas mas por “reflectir sobre o modo como os problemas surgiram”.

 

Fórmula capitalista

“O que é feito das grandes questões da juventude?”, perguntou. “Perguntávamo-nos se conseguiríamos ultrapassar o Estado, e mesmo viver sem ele. Perguntávamo-nos se, um dia, todos os países seriam comunistas.” Hoje, órfãos que estamos de Francis Fukuyama [que decretou “O fim da História” em 1989] Zizek, “cretino, mas não um cretino total”, acha que “a maior parte da esquerda radical é fukuyamista.  Ou seja, aceita o sistema capitalista sem o pensar realmente”.

E usou o exemplo do protestantismo, a fórmula capitalista do cristianismo, para explicar o capitalismo: “O capitalismo é um sistema dinâmico que nos obriga a agir o tempo todo.

Assim sendo, não nos deveríamos sentir imobilizados, mas impelidos a agir o tempo todo.” É um paradoxo: “É o sistema mais produtivo e dinâmico da História mas não pode ir até ao seu limite, porque deixa de ser uma democracia.” “O capitalismo não é a democracia, porque, se é uma democracia, não é capitalismo”, como na velha anedota de Lacan:

“A minha noiva não está atrasada porque, se estiver atrasada, já não é a minha noiva”.

Zizek acha que não estamos a olhar para os sítios certos, nem a considerar todas as formas de capitalismo. Sugere, por isso, que pensemos como Hegel numa ideia de totalitarismo: “O totalitarismo hegeliano não propõe uma harmonia, mas antes que, para falarmos de um fenómeno, observado na sua totalidade e na sua definição, devemos ser atentos aos desvios e às tangenciais”. E pede que olhemos para o que se passa na China, em Singapura, no Congo. “A crise é o capitalismo global e os seus limites”, acrescentou.

“Estamos limitados pelas nossas perspectivas ocidentais” e “o nosso cepticismo é falso”, afirmou. “Os milagres acontecem”, deitou numa nota de esperança: “Olhemos para o que passou no Egipto”. Só não podemos ter medo, como na cena final de A Noite Americana, de François Truffaut, onde o herói, depois de tanto insistir com a rapariga para fazerem amor, quando ela aceita fazê-lo ali no carro, fica cheio de medo e diz: “Mas assim, agora?”.

Agora, disse Zizek.”

Ouça a conferência do filósofo Slavoj Zizek http://blogues.publico.pt/avignon2011 

(artigo disponível em Caderno P2, Público, de 13 de Julho de 2011, pág. 6/7)

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The 12th of March

For me, the “Protesto da Geração à Rasca” showed people that they are not alone, that democracy lives and is more than voting every four years. It was a collective catharsis.

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